terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Saindo da cova

Laços eternos feitos pelos anos de submissão

você nunca me deixou ir embora.

Agora não vejo saída,  a não ser partir

O que você esperava? tantos anos me submeti

as suas ilusões. para quê? você nunca me consolou de verdade.

Cada momento ao seu lado é um vazio maior que vai nascendo dentro de mim.

Eu continuo me afogando, me afundando em suas mentiras, você nunca 

me fez esquecer nada. Meus fantasmas continuam aqui, me chamando ao pé do ouvido.

E a dor que eu pensei que algum dia iria aliviar com você, só aumenta.
O vazio que pensei que você poderia preencher, só aumenta.
Eu cavei minha própria cova acorrentada em uma vida que eu deixei você escrever para mim
e você me enterrou, com os olhos bem abertos para eu ver a desgraça que eu virei, a cova que eu cavei, o mar que me afundei... tudo isso por você. tudo isso com você. 

Agora não vejo saída, a não ser partir. E pegar de volta tudo o que você tirou de mim.

Clara Brito

 

domingo, 4 de dezembro de 2022

Presa em correntes

Tempos difíceis era o que eu imaginava que estava enfrentando, mas a dificuldade parece nunca passar.

Em minha garganta se prende um desejo contínuo de gritar, e sinto que meu canto não é o suficiente para expressar a agonia que cresce dentro de mim.

Torturoso e obscuro é o caminho que sigo... enfrentando de frente o meu passado, tento me libertar desafiando meus vícios e fantasmas. No fim acabo ferindo a mim e aqueles que amo.

Não sei se ajo certo em me manter forte, também não sei se estou forte ou só mascarando meu real estado emocional e físico para não enfraquecer quem está do meu lado.

Eu nunca enxergava de verdade o que eu sinto ou quero sem influências. E quando passei a fazer isso muita gente ficava chateada. Aí que eu percebi... que eu sou uma verdadeira filha da puta!
Talvez deixando o meu passado para trás eu consiga seguir em frente sem magoar ninguém... é o que venho tentado fazer.
Mas depois de tantos presos presa em correntes, quando finalmente me libertei, ninguém acredita que estou livre...

Clara Britto

domingo, 23 de dezembro de 2018

Olhando no escuro

Sento no canto da sala
no escuro consigo me observar com mais clareza.
No escuro consigo reparar minhas ações.
Consigo ver a sombra da minha mão se levantando
Ela se movendo em direção as lagrimas que escorrem em meu rosto
Ela tenta manter o controle dessas lágrimas que escorrem pelas cicatrizes.
As marcas que essas sombras confusas da vida fizeram,
Meus olhos quando veem essas marcas não compreendem.
Não reconhecem meu rosto, por isso gosto de me reencontrar no escuro.
E sentir cada parte do meu corpo, olhar através da escuridão.
Com mais clareza para entender aonde foi que perdi minha essência 
e fiquei só com o corpo.
Sentindo minha pele vejo o quanto áspera está.
Seca, gelada, morta, ferida...
É como se meu corpo tivesse passado por lugares diferentes, porém pesados.
Perigosos o suficiente para me matar aos poucos. 
Foi isso que aconteceu.
Volto para minha face, minha pele caída, mole, molhada, velha, cansada.
Estou muito cansada.
Minhas pernas se encolhem.
Se encolhem a ponto de sentir meus joelhos pressionarem meus seios.
Minha mão passeia pelas laterais de minhas coxas, desce pela minha panturrilha.
Toco meus pés.
Meus pés calejados, doloridos, frios, minhas unhas grandes arranhando meus dedos, sola suja.
Fiz uma maratona no deserto.
Mesmo que não seja verdade, é assim que meu corpo se sente.
Esse é o momento que toco minhas partes intimas.
O lugar onde minhas mãos se sujam por completo.
Sangue! Muito sangue! Dor! Muita Dor! Feridas! Muitas Feridas!
Meus olhos quando veem esse sangue e essas feridas não compreendem.
Não reconhecem esse corpo, pois não é normal pra meu corpo ficar assim.
Por isso gosto de me reencontrar no escuro.
E sentir cada parte do meu corpo, olhar através da escuridão.

Clara Britto

sábado, 28 de julho de 2018

O Monstro e o Cisne

"São esses momentos que você vê o dia e a hora passarem sem perceber, sem sentir nada, sem desejar nada, apenas lembra dos momentos chocantes e tristes que causou...
olha para sua amada, chora ao beijar seu rosto suavemente enquanto a observa dormir, tenta adivinhar seus sonhos e reza pra que não esteja tendo pesadelos consigo. Aquela dor que você tinha causado ha duas semanas atrás mal foram curadas e você abriu mais feridas, dilacerou o coração dela.
Seus gritos, suas pancadas, sua desordem mental e seu transtorno abusivo a fez enxergar um lado seu que ela nem ninguém conheciam.
Estão todos assustados, acoados e de luto ...pois no coração de cada um uma parte de você morreu. Sinto dizer que foi a parte boa que a sua parte ruim matou. Matou em todos os que você ama, em todos que te amaram.
O seu monstro destruiu a unica pessoa que mais te amou..a unica que sentiu seu amor. E agora ela se foi...ferida, humilhada, machucada...
você a matou! Você matou o seu amor..."

Quão linda é esse Cisne, que se banha em meu lago. O lago onde vive o monstro mais horrendo de todos os monstros. Mas um monstro que a protege, que a ama só de olhar, vendo a se banhar.
Quão linda és, meu Cisne! Minha bailarina do mar! Que dança sobre meus olhos e me faz chorar.
Quão reluzente é seu brilho, seu sorriso, seus olhos que lacrimejam nas águas do meu lago.
Vive uma prisão ao meu lado... pobre Cisne, se soubesse o quanto meu coração a ama. O quanto sofro por ser tão monstruoso assim. E nada posso fazer para tirar esse lado monstruoso de mim.
Só você pode meu Cisne... com sua beleza, com seu amor.
Perdoe - me por as vezes afogar você em minhas águas, eu só queria te fazer nadar,,,,
mesmo que seja pra longe de mim.. eu só quero te ver voar sobre as águas.
E um dia esperar o vento trazer você de volta pra mim...

Clara Britto

terça-feira, 29 de maio de 2018

Cansaço sem fim

Meus pés estão tão cansados.
Meus pés parecem raízes presas ao chão.
Sinto um peso tão grande quando vou caminhar.
Sinto um peso em minhas costas, como se alguém estivesse sobre ela.
Me empurrando pra baixo, machucando minha coluna, me impedindo de andar.
Tenho me sentido tão cansada e ao mesmo tempo tão triste, ou melhor..sem emoção.
Nada me faz sorrir e nada me faz chorar.
Tenho enfrentado uma realidade tão confusa, onde me cobro de coisas que nem acredito que vou conseguir realizar... e me cobro tanto a ponto de ficar tão frustrada e tão insatisfeita comigo mesma que não consigo mais fazer nada, só observar meu mundo caindo..é só isso que tenho feito..
observado e sentido meus prédios internos se desmoronarem. Tudo caindo...
E esse peso que parece mais um corpo sobre mim ... o meu corpo, morto, um cadáver sobre minhas costas. Corpo que eu matei com desesperanças, com ilusões, com batalhas perdidas, com armas...
Minhas mãos sangram diante do espelho... quem matei? Eu mesmo!
Meus pés enraizados, meu corpo imobilizado, meus pensamentos entorpecidos, meu coração frio, minha mente enjaulada... presa nesse redemoinho de emoções que não sinto, só vejo... não me permito sentir nada...
eu nunca me dei esse direito. Não vai ser agora irei merecer isso...
A gente fica forte num dia , sugando o resto da força dos outros, aí no final da semana não sobre mais nada, só cama... só teto...nada mais.

Clara Britto

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Ponto de Partida

Onde se inicia o ponto de partida?
Muita coisa pra dizer...
Uma vida devedora de promessas, de respostas, mas que eu também preciso aprender como fazer.
E o que seria esse ponto de partida?
Uma iniciativa para seguir as regras e me manter calada, omissa,"curada" aos olhos dos que me olham , mas não me vêem.
Mas essa sede insaciável que está me matando aos poucos, é um veneno que não consigo parar de beber.  
Essa morte lenta e dolorosa é como um câncer que vai me corroendo a cada gole, a cada respirar.
E partir a partir desse ponto, pra mim ,vai mais além do que uma iniciativa. É como morrer pra nascer de novo, e eu tenho medo da morte, eu tenho medo de partir desse ponto. O ponto do sofrer pra sobreviver.
Quando a gente se olha no espelho e não se reconhece mais as desculpas passam a ser culpa, verdades, feridas... que demoram pra cicatrizar.
A ilusão se torna perigosa quando vira realidade.
E como partir do ponto da ilusão pra chegar até a realidade?  Enfrentando o medo, os traumas, os fantasmas?...Se fosse fácil ninguém precisaria morrer pela humanidade.
Hipocrisia da minha parte dizer que o preço não foi pago, mas a nossa divida é grande demais e a carne do homem tem vicio de sofrer, mas só pra mostrar no final quem consegue ser mais forte.
Nem a dor a gente sabe dividir.. até porque se fizer isso você se torna o mais fraco. Ninguém gosta de ser fraco.
Talvez essa sede que sinto seja a necessidade de engolir os fatos, fatos que preciso aceitar para eu tomar uma iniciativa, mas a dose é muito grande e eu já to cansada de me embriagar com fatos...
Os fatos tem um gosto muito amargo.
Não da pra partir de ponto nenhum com esse cansaço.
E se eu fizer... se eu inciar essa partida...
Onde é que começa?
E onde é que ela termina?

Clara Brito

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Pode entrar

Talvez essa seja a solução...
Eu tenho me fechado para o mundo, engolido minhas palavras. Tenho medo de falar , de assustar, afastar e de perder... 
Mas também quando não falo , faço... e depois que faço assusto, afasto e perco.

Bem vinda ,Selva!
Selvageria do coração, raiva, morte de sentimentos bons, o medo , os traumas, a repressão!
Seja bem vinda ,Selva!
Libere seus animais aqui dentro, deixe fluir, deixem rugir bem alto!
Arranque, rasgue, mate, transforme! Seja você, Selvagem! Monstruosa verdade!
Bem vindo, Bicho!
Dê o seu melhor! Não deixe ninguém invadir seu espaço! Pegar o seu lugar! Seja valente! Seja medonho, seja imprudente! Seja Selvagem!Não deixe os outros atingirem você, desvie das armas, mas não fuja delas! As enfrente! Não seja covarde, Bicho! Seja forte! Seja bravo! Seja sábio!
Bem vinda, dor!
Já entrou sem bater mesmo!chegou dilacerando meus animais, transtornando meus pensamentos, corroendo meus sentimentos, devastando minhas plantações, minhas flores, meu jardim, minhas árvores!  Transformou meus dias quentes em constantes noites frias, em lagrimas repetitivas... transformou tudo meu em você. Em dor! Então seja bem vinda dessa vez..
Pode entrar...
Mas limpe os pés no tapete, acabei de varrer a sala de jantar!

Clara Brito